Há uma ideia generalizada, entre muitas empresas multinacionais que comunicam os seus produtos e serviços em Portugal a partir de fora, de que os portugueses são uma espécie de poliglotas incríveis – uns desenrascados (palavra intraduzível mas que eles percebem o que significa) que compreendem tudo. Especialmente quando comparados com os seus vizinhos espanhóis…
A partir desta ideia enviam para os media “coisas” em Inglês, em Espanhol – ou até mesmo em Português do Brasil – na esperança secreta de que “é a mesma coisa” do que enviar no idioma local e que, mesmo que não seja, pouparam tempo e dinheiro ao evitar a tradução e adaptação. Claro que esta ideia tem um fundo de verdade: os portugueses são efetivamente uns desenrascados no que diz respeito a entenderem e fazerem-se entender noutro idioma que não o seu. Seja qual for a razão – as explicações habituais vão desde ao hábito de legendar filmes e séries em vez de “dobrá-las” até ao facto de sermos “uns tipos simpáticos que se esforçam por agradar aos estrangeiros” – existe efetivamente bem mais do que apenas um fundo de verdade nesta forma de pensar. Contudo, uma coisa é os Portugueses terem facilidade em entender e fazer-se entender noutras línguas que não a sua. Outra, muito diferente, é esperar que jornalistas e bloggers tratem da mesma forma a informação que lhes chega num outro idioma que não o seu. Não porque não entendam o que lá vem escrito, mas porque é muito mais simples e rápido poderem usar diretamente o texto em Português numa notícia ou artigo do que terem de o traduzir primeiro. |
AutorAntónio Eduardo Marques é o fundador da AEMpress. Arquivo
Julho 2024
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