Uma notícia recente da Reuters dá conta de uma alteração discreta mas importante no algoritmo de pesquisa do Google: desde Setembro de 2014 que a informação veiculada pelas empresas (no fundo, os seus press-releases) fazem parte da pool de fontes a que a Google recorre para exibir resultados na secção Notícias sempre que os utilizadores procuram informação empresarial. Mais: os links para essa informação podem surgir no topo da primeira página de pesquisas, com um peso tão grande ou maior do que as notícias produzidas pelos media. Há muitas formas de olhar para esta alteração (a minha costela de jornalista sugere-me várias...) mas uma leitura possível, e interessante para o mundo do PR, é simples e direta: não, o press-release não só não morreu como está bem e recomenda-se. Num mundo de click bait é comum vermos artigos com títulos sobre "A morte do press-release" ou até mesmo a "Morte das Relações Públicas"... O que, como tudo na vida, tem um fundo de verdade e pode ser visto do ponto de vista do copo meio cheio ou do copo meio vazio. Quanto a mim, este não será tanto um caso de pessimismo ou otimismo, mas mais uma questão de olhar ou não para o mundo das relações públicas e das suas ferramentas de uma forma tradicional. O que se passou foi um processo darwinista em que o press-release (e as relações públicas, mas isso fica para uma outra ocasião) teve de evoluir sob pena de morrer.
Hoje, o venerado PR é parte pitch, parte notícia pronta a servir e a consumir. E estou apenas a pensar no seu valor para os media. Mas o PR é também uma ferramenta versátil que serve igualmente de ponte de comunicação com os clientes, com o canal, com os próprios funcionários da empresa que o veicula. Num mundo digital cheio de websites, agregadores e blogs pessoais - cujas diferenças a maioria dos leitores nem sequer consegue destrinçar – o venerável press-release transformou-se numa importante fonte de informação, cabendo ao consultor de PR criar uma história que seja um equilíbrio honesto entre a informação que o seu cliente pretende veicular e a confiança que não pode perder com os profissionais da comunicação, os media e os seus leitores. Mais do que nunca, as técnicas de construção de um press-release são as mesmas da construção de uma notícia, com a complexidade acrescida de que a empresa de comunicação tem de pensar mais nos canais de divulgação que pretende alcançar do que em agradar ao cliente – um tema de conversa frequente entre profissionais de PR e que demonstra o quanto esta é uma questão universal. É muito frequente que o consultor tenha de explicar ao seu cliente que mais importante do que dizer num press-release tudo o ele pretende é dizer aquilo que faz sentido aos leitores dos órgãos de comunicação social para os quais o press-release será enviado. No limite, é sempre possível criar diferentes press-releases, um mais institucional e para "consumo interno" e outro (ou outros) para envio aos media. A ironia desta alteração do algoritmo do Google é que mesmo quando esta dicotomia acontece, quem procura informação sobre uma empresa vai provavelmente ver no topo dos resultados, com igual relevância e dignidade, o press-release institucional. ;-) * http://oupacademic.tumblr.com/post/48310773463/misquotation-reports-of-my-death-have-been Os comentários estão fechados.
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AutorAntónio Eduardo Marques é o fundador da AEMpress. Arquivo
Julho 2024
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